quinta-feira, 26 de março de 2015

Vai que é tua

Como vai meu amigo?
meu estranho de berço.
um abraço de longe
atiro e atinjo num só arremesso

mas por que tão distante?
digo, destoante?
antes tu me via
de braços cruzados,
um abraço em mim mesmo.

será que me entende
se eu te ignorar
agora só peço
abraços a estranhos
amigo de berço

Eu não me orgulho
E tu não te bruno.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Kombi

é o vento norte
é a morte vindo
em marcha lenta
meu curto luxo
só quer manto
só polenta
em marcha vindo
a morte lenta
Revida, a vida
sou uma bosta
e basto.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Câncer

Cansei dessa vida de vira-lata!
Um pé na cova
outro na estrada
E eu sei que o acaso me espreita a cada canto,
eu canto e toco
a vida como dá..
Você me chamou num canto
de sereia
  e seria fatal
se eu fosse um homem do mar
                                  do amor.

Mas é que eu sei
que você sabe
que eu sei
que você sabe
cansei
de você, sabe
eu cansei.

domingo, 25 de maio de 2014

para Naomi;

"Cartas, cartas, minha querida! Nunca soube direito come me dirigir a elas.
Sempre tento escrever sobre nós mas nunca acho sequer 
duas palavras pra nos definir.
Não pense que não me importo, muito pelo contrário, como me importo!
Não me importo em ter coisa nenhuma, não me importo sequer se há
 um lugar no céu ou no inferno pra mim;
..ah, Naomi, minha querida.. nunca soube como me dirigir a ti.
mas só de estar ao teu lado, em silêncio..
Nós não temos nada
e isso basta."

do seu."

sábado, 1 de março de 2014

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Fluvio-Cársico

Estou a beira de um enfarto
e tomando café
Na beira do precipício
e sempre avante
Na beira da estrada, interminável
Sempre recolhendo estórias irrelevantes..
Estou coberto de razões ignorantes
coberto pela manada de elefantes
se perdi o controle, sem desespero
Não há porque se arrepender, espero...
Na beira da cachoeira, e remando
Sem eira nem beira, me esgueirando
O caos reina lá fora, e eu aqui
tocando violão...

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Destino pacato

Em matéria tudo vive,
em matéria tudo morre
seja o fruto do seu ventre,
seja o sangue que escorre
quando tudo é mais do mesmo 
mais vale um cigarro aceso
que uma vida apagada..

domingo, 29 de dezembro de 2013

Lenda Urbana

João da Silva acordou já cansado, como todo mundo. Sorte que lhe sobravam 10 minutos para um café. Tomou e se alegrou. 
Beijo na esposa, beijo na filha, afago no cachorro.
Tinha presa, se atrasava, mas contente porque iria ver o sol nascer.
Saiu pulando por uma rua de terra clara pois chovera aquela noite, resmungava ao pisar na poça suja pelo boeiro entupido, mas contente porque a enchente esse ano a sua casa não alcançou.
Chega tarde na luta contra outros da mesma espécie, e numa batalha selvagem e mortal prevalece sua experiência. Ganha, com isso, o privilégio de pagar para entrar em uma lata de sardinhas. 
"Já não sinto mais meu braço"- pensava João enquanto suava no calor de Fevereiro. No fundo, contente pois naquele dia o ônibus não atrasara.
Corre-corre, adrenalina, a jornada não acabou.
Passadas largas resolvem seu problema. Faltando pouco pra chegar esbarra em um sujeito que foge apressado. Com sua carteira. João respira, pensa em todo o prejuízo, já contente pois ao menos hoje foi rápido e indolor.
Chega, finalmente,  no covil das sanguessugas. Tal empresa criava e vendia formas mais eficientes de humilhação, mercado que possui uma demanda enorme nos dias de hoje. Andando em sua direção o verme mórbido e desprezível a quem não se podia questionar.
-"Baixe a cabeça e resolva meus problemas! Não reclame pois há muitos lá fora querendo seu lugar. Seja um bom menino, trabalhe até o osso e, quem sabe, no fim do dia devolveremos o seu rim". 

"Ao menos tenho onde trabalhar"- contente, pensou João da Silva. (...)


terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Desde dezembro

Porto Alegre, 10 de dezembro de 2013, 00h25min

- Chegou a hora de limpar as coisas! Esta tudo uma bagunça, meu quarto, meu computador. Vou dar um jeito nisso. Deixa eu ver, melhor começar pela área de trabalho. Isso vai pra pasta 'livros', isto pra 'Nova Pasta (7)'.. mas espera, o que é isso? Uma gravação. Vamos ouvir. Hmm, legal, isso me lembra que já tenho que tirar as gravações do celular. Pronto, agora vou ouvir todas e apagar o que nao presta. Beleza, essa aqui tem que fazer a tablatura. Vamos abrir o GuitarPro. Olha só, já tem algo aberto aqui. Vamos ouvir. Certo, certo, isso da pra continuar acrescentando essa linha de baixo, deixa só eu pegar um café. Ah, enquanto esquenta o café vou lavando essa louça. Bah, tem que tirar o lixo seco. Feito. O que eu estava fazendo mesmo? Ah é, não lembro como é o riff. Deixa eu pegar o violão. Que droga, não consigo fazer, mas está parecido com essa. E tem aquela do Chico. E aquela do Caetano. E essa da ócio. Droga, essa só faz sentido com o João tocando junto. Cansei de tocar. Porra! 3 e meia da manhã! Não tenho tempo pra nada, já tenho que dormir. O pior é que sequer limpei meu computador. Espera, isso dá um texto...

Porra! 4 e meia da manhã!(...)

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Quero-quero quando canta

Eu quero brincar. Eu quero cachorro-quente. Não quero mais comer. Eu quero uma bicicleta. Eu quero um dynavision. Não quero dormir. Não quero mais comer. Eu quero brincar la fora. Quero uma bola. Quero jogar bola. Quero jogar bola. Quero jogar bola.  Não quero mais comer. Quero acabar o colégio. Quero saber o que fazer agora que acabei o colégio. Não sei o que quero. Quero ir pro exército. Não quero ir pro exército. Quero engenharia. Não quero cálculo. Quero dormir. Quero café. Não quero mais engenharia. Quero software. Quero viver sozinho. Quero paz. Quero algo pra comer. Quero café. Não quero mais software. Quero trabalhar. Quero independência. Não quero viver sozinho. Não quero viver contigo. Não quero mais cachorro-quente. Quero comer.

domingo, 6 de outubro de 2013

Bonsoir, meu bom senhor

Creria em ti, meu bom senhor,
se eu não fosse a teu
encontro
pro qual os dias conto
contra todos que em um livro
contam um conto e aumentam um ponto.
.

domingo, 29 de setembro de 2013

Hey!


Apresso o passo
              o cinza encobre tudo
                           todos correm
                                    e eu estou longe de me preocupar. 
Passo sempre pela mesma rua mas nem presto atenção, fico evitando as fendas na calçada.
Sei que é difícil expressar o simples
em tardes normais
sem filtros
só apressadas contemplações.
Tantos olhos feitos pra falar
Mas se calam
.
..
Veem o cinza e correm.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Dirty old man

Então queres ser um escritor?
Bukowski

se não sair de ti explodindo
apesar de tudo,
não o faças.
a menos que saia sem perguntar do teu
coração e da tua cabeça e da tua boca
e das tuas entranhas,
não o faças.
se tens que sentar por horas
olhando a tela do teu computador
ou curvado sobre a tua
máquina de escrever
procurando palavras,
não o faças.
se o fazes por dinheiro ou
fama,
não o faças.
se o fazes porque queres
mulheres na tua cama,
não o faças.
se tens que te sentar e
reescrever uma e outra vez,
não o faças.
se dá trabalho só pensar em fazê-lo,
não o faças.
se tentas escrever como algum outro escreveu,
não o faças.

se tens que esperar para que saia de ti
a gritar,
então espera pacientemente.
se nunca sair de ti a gritar,
faz outra coisa.

se tens que o ler primeiro à tua mulher
ou namorada ou namorado
ou pais ou a quem quer que seja,
não estás pronto.

não sejas como muitos escritores,
não sejas como milhares de
pessoas que se consideram escritores,
não sejas estúpido nem enfadonho e
pedante, não te consumas com auto-
-devoção.
as bibliotecas de todo o mundo têm
bocejado até
adormecer
com os da tua espécie.
não sejas mais um.
não o faças.
a menos que saia da
tua alma como um míssil,
a menos que o estar parado
te leve à loucura ou
ao suicídio ou homicídio,
não o faças.
a menos que o sol dentro de ti
te esteja a queimar as tripas,
não o faças.

quando chegar mesmo a altura,
e se foste escolhido,
vai acontecer
por si só e continuará a acontecer
até que tu morras ou morra em ti.

não há outra forma.
e nunca houve

domingo, 4 de agosto de 2013

Tempo, Temperos e Temporais

Quando o cinza é céu
ela é só, não há sol
em teu lençol
que é teu Romeu
por erro meu
que disse adeus
em oração

Parte 2 (...)


quarta-feira, 24 de julho de 2013

Fio-me

-Como assim? Quer dizer então que está tudo por um fio?
- Veja bem, todas as relações, dinheiro e poder formam um chão no qual, ilusoriamente, achamos ser nossa base. Mas na verdade não estamos de pé, e sim pendurados. Por isso nunca caímos de fato quando perdemos o chão.
- Tem ideia do que pode ser feito esse frio que nos segura?
- Ah, é apenas uma teoria fajuta sobre a vida.. sabe? Daquelas com uma linda estrutura mas sem nada concreto.
- Pensando bem, quando todo o calor se vai é o frio que permanece conosco, o que realmente importa..
- É uma ótima forma de completar a estrutura.. Mas você realmente acredita que toda a complexidade da vida é mantida apenas por um rio?
- Talvez até o menor deles. No deserto qualquer filete d'água já é esperança. 
- Veja só, no início dessa conversa era eu quem defendia essas teorias malucas.(risos)
- E você tinha razão, toda a vida está por um riso.

______________,,_____________

Texto brevemente inspirado nesse comercial muito criativo da TNT.


terça-feira, 14 de maio de 2013

Quando o cinza é céu


- Vamos! Pegue minha mão, rápido!
 Ele se debatia tentando, desesperadamente, subir a bordo. Usava de todas suas forças, consumido pelo mais puro instinto, mas quanto mais tentava, mais se afastava do navio.
- Não adianta debater-se, é inútil! Você vai precisar de toda sua coragem pra sair dessa.
- Tenho medo! Diga-me o que fazer - Gritou, já quase se afogando.
- Esqueça tudo o que seu instinto lhe obriga a fazer agora e relaxe. É difícil mas preciso. Depois feche os olhos e segure minha mão.
 E ele o fez. De uma hora pra outra todo o resto se apagou. Ele apenas sentia o flutuar do seu corpo em meio a imensidão do oceano. 
Quando acordou do transe estava em uma praia. No horizonte, o navio onde estivera. 
Sentou e perguntou-se se era louco ou são por ter segurado a mão do mar.


No navio és uma peça
nada mais
No mar tu és nada
mesmo que peça
Ainda que poça
por mais que penses
que és.

sábado, 12 de janeiro de 2013

About men and paper sheets


-Oi..
-Olá.
-Já faz tanto tempo que nem sei como começar..
-Está indo bem, sabe que não ligo pra isso. Até quando se arrepende de ter começado, pra mim, já vale a pena.
-Sinto-me mal por te dizer qualquer coisa, talvez seja esse meu problema.
-Sempre serei a mesma. Do jeito que for, gosto quando me muda.
-E eu gosto quando me ouve.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

CiclolciC


neutro
    nuvens
        nortes?
           (nothing)
                neura!
                   sem eira
                     nem beira
                       ah! Besteira.
                     café
                 chaleira
             cadeira
        argumento
   e sento
neutro

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Sal Agosto


- Dúvida. Está ai uma palavra que me define.
- Não acha ela meio generalista?
- Acho. Generalizar é a essência de se definir. Ninguém gosta de se trancar muito. Se eu dissesse algo muito específico, por exemplo, correria o risco de me limitar demais.
- Sei disso. Não esperava uma resposta como 'alto' ou 'democrata' de você.
  Mas o segredo não está na sua resposta, e sim onde ela se encaixa. 'Alto', por exemplo, seria uma resposta dentro de um universo referencial, comparativo. Portanto creio que o universo generalista se encaixa bem em você. Ou você nele..
- Então isso era um jogo..
- Desculpe.. - Risos.
- Mas então me diga, qual palavra te define? 
- Panqueca.
- Não acha ela meio abstrata?
- Não ligo. Gosto de panqueca.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Sobreviser

  Entro no metrô, exausto psicologicamente. Há algo sutilmente engraçado em tentar descansar a mente, isso quase sempre requer algum esforço; procuramos o lugar e a atmosfera certa. O metrô das 18 horas com certeza não é a melhor opção. Sento ao lado de um velho de cabelos negros e costeletas brancas. Olho para ele e o nome Rodrik me vem em mente. Ele, apesar da correria, parecia descansado.
- Este é o último expresso, o que deseja expressar? - Disse o velho.
- Não desejo nada além de café - Expresso. (...)


terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Aloe Vera


Os ponteiros giravam freneticamente, quase a me desafiar
  Buzinas de carros sem freios avisavam que nao pretendiam parar
Sussurros de gritos ao longe discutem os erros do antecessor
  E a colonia alimenta a rainha num sistema falho de afeto e de amor

E as folhas quebram quando se pisa
O vento passa pro beco uivar
Da sacada espetaculo de flashs e trovoes
trovam demais ao som da chuva  
Sorrisos fracos alimentam o dia
O dia passa sem ninguém notar
Muitos se passam, ninguém se olha
Sem desculpas por não se importar...

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A Bruxa do Céu Noturno

Não lembro quando o céu nublou
Não sei quando parei de andar
Minha vida é um dado que se lançou 
em um incerto jogo de azar

Solitário preso no escuro
Procurando a porta pro amanhã
O dia chega e o cinza invade tudo

Não sei quando o tempo nublou
Não sei quanto tempo passou

Já é difícil me concentrar 
com essas vozes
Quanto mais me perder no mar negro
do céu profundo
Com estrelas como lamparinas 
iluminando o papel

Não sei quando parei de andar
Não sei quando parei de ouvir

Medroso comecei a fugir
pra onde a luz ainda brilha
Fugindo das sombras que tanto zelei
Fugindo das sombras que eu inventei

sábado, 6 de agosto de 2011

Corpus Christi

Hoje, hoje é um dia especial
Estou mais velho do que nunca e o mais novo que serei
Ainda movido pela eterna destruição
Onde está o indescritível amor das suas poesias?
Se perdeu dentro de seus conceitos tão formais.
Mas hoje, hoje! É dia de celebração
É o dia simbólico da baleia se vingar
o dia de matarmos mais um salvador
e de comer sua carne mais tarde
Onde está todo o bom senso que continha em seus anais?
está em anexo?
ainda hoje, tentarei viajar um pouco
procurar em fantasias o que desejo viver
Onde os dragões são mais frágeis
Ó pobre angústia que vejo em seu sorriso
Em lábios que seguram outro cigarro
que beijam amigos e também escarram
que copiam poetas em suas canções
Ah mas hoje vou encher o copo
Comemorar com orgulho o que o orgulho construiu
Ainda não consigo definir direito
o que é uma baleia mesmo?
do que me orgulho mesmo?
É só cavar um pouco mais pra poder rir
o quão ridículo tudo se tornou
Onde está aquele vívido gargalhar que era
o motivo da existência de todos até os 16?

O mais velho que foi.
O mais novo que será.
Hoje.

terça-feira, 7 de junho de 2011